quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Vistas de Lisboa (1)

Grande prazer desfruta o coleccionador principiante ao agrupar a meia dúzia de obras de arte que lhe suscitou a ideia de organizar uma colecção. Expostas e dispostas com cuidado e requintes, deleita-se a examiná-las.

Lisboa, Avenida da Liberdade, década de 1900, publ. Mala da Europa.
Imagem: FCSH +Lisboa

Mas a insistência neste exame e admiração a breve trecho lhe sugere uma alteração à disposição inicial, que obedeceu simplesmente a razões de ordem estética. Sugere-lhe a necessidade da colocação por ordem de representação [...]

Uma iconoteca permite a execução das operações de ARRUMAÇÃO e ORDENAÇÃO independentemente uma da outra. Da confusão e mistura destas duas operações é que resultam todos os problemas com que se debate o coleccionador.

Lisboa, Praça dos Restauradores, Rob. Kämmerer, c. 1900.
Imagem: Museu de Lisboa

A ARRUMAÇÃO só tem a considerar as características físicas ou materiais das espécies. 

A ORDENAÇÃO considera todas as outras propriedades desde as artísticas às de representação, às históricas, às documentais, às cronológicas, etc.

Ambas estas operações contam antecipadamente com um crescimento ilimitado. Numa iconoteca é possível e fácil agrupar as espécies de modo criterioso e integral nos quatro grandes grupos seguintes que preconizamos para a divisão da iconografia olisiponense, e nas suas divisões e subdivisões:

iconografia panorâmica, 
iconografia monumental, 
iconografia histórica 
e iconografia dos usos e costumes.

Ao contrário de uma instalação custosa pela grandeza e luxo necessários que a exposição permanente destas espéçies exigiria, a uma iconoteca basta um arquivo, uma sala de exposições e uma biblioteca privativa [...]

Lisboa, Praça do Commércio, Editores Belém e Cia., década de 1890.
Imagem: Barry Lawrence Ruderman

Não cabem no âmbito desta achega os índices com que agruparíamos estas espécies nas várias divisões iconográficas que referimos. Limitamo-nos, por isso, à sua arrumação pela única propriedade física que está ao nosso alcance: o processo de execução. (1)

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GRAVURAS

001

VISTA geral tirada do rio. Tem 71 rubricas de referências dispostas em 7 colunas.

Lissabon, Friederich Schoenemann, 1756.
Imagem: LUNA

lnsc. - LISSABON (na parte inf. da mancha, ao meio, dentro duma cartela de estilo). 
Subs. - Gezeichnet und Gestochen, von Friederich Schoemann in Humb. 1756 (na marg. inf. à dir.). Dim. -1195 X 425 mm. de vin. 
Proc. - Gravura.

002

VISTA geral tirada do rio onde navegam vários barcos a remos e à vela. Tem uma coluna de referências alfabetadas de A a R, num rectângulo dentro da mancha, no canto inf. dir., com o título: Explication des lettres de la presente figure. Espalhadas pela mancha e junto aos vários edifícios tem várias indicações, tais como: L'Arcenal, La maison des lndes, Le grand Quay Royal, etc.

Profil de la famevse ville et port de mer de Lisbone cappitalle dv royavme de Portvgal, Hughes Picart, 1645.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

lnsc. - PROFIL DE LA FAMEVSE VILLE ET PORT DE MER DE LISBONNE CAPPITALLE DV ROYAVME DE PORTUGAL (na parte sup. da mancha, a todo o comprimento).
Dim. - 735 X 277 mm. de vin.
Proc. - Gravura.

003

VISTA geral tirada do rio tendo no 1.° plano à dir. 2 figuras ale- góricas: uma com asas e outra sobraçando uma âncora. No canto sup. esq. da man. tem um escudo com uma nau. 

Lissabona Committe Deo Spera Et Ille Faciet, Daniel Meisner, 1638
in Libellus novus politicus emblematicus civitatum.
Imagem: Paralos Gallery

Insc. - LISSABONA IN PORTUGAL (na parte sup. da mancha, ao meio). COMMITTE DEO, SPERA, ET ILLE FACIET (na marg. sup., ao meio). TU COMMITTE VIAS JHOVOE, ET FPE NOTERE IN ILLO (na marg. inf., à. esq.). OMNIA PERFICIET PROVIDUS IPSE BENE (na marg. inf. , à dir.) . Tem mais duas inscrições em alemão, uma à. dir. e outra à esq., de 2 linhas cada uma e ambas por baixo das inscrições latinas antecedentes. 
Dim. - 146 X 97 mm. de vin. 
Proc. - Gravura. 

Esta vista pertence a uma colectânea alemã do século XVII [ Libellus novus politicus emblematicus civitatum] que contém também uma vista de Coimbra e outra de Buarcos.

004

VISTA tirada do rio. Na parte sup. da man. tem um brasão de armas com as quinas, à esq ., e um outro com uma nau, à dir. 

Tem 34 rubricas de referências dispostas em 4 colunas, dentro duma cartela rectangular de estilo.

Olisippo, Lisabona, Matthaus Merian, 1636.
Imagem: Barry Lawrence Ruderman

Insc. - OLISSIPO - LISABONA (na part e sup. da man. dentro duma filactera). 
Dim. - 608 X 400 mm. de vin. 
Proc. - Gravura. 

005

ESTA espécie tem 2 manchas: a de cima representa a vista panorâmica de Lisboa tirada do rio e a debaixo a vista da margem dir. do Tejo a partir de Belém e o seu prolongamento pela costa até Cascais.

A man. de cima tem na parte sup. à esq. um brasão de armas. 

Lisabona, Cascale, Betheleem, Braun & Hogenberg, c. 1575.
Imagem: Fortalezas.org

Insc. - LISABONA (na parte sup. da man . de cima, ao meio). CASCALE- -LUSITANIAE OPP. (na parte sup. da man. de baixo, à esq.). BETHELEEM (idem, idem, à dir.). Olisipo, sive vt pervet Lapidvm Inscriptwne s habent, Vlysippo Vvlgo Lisbona florentis simvm Portugalliae Emporiv. (na parte inf. da man. da estampa de cima, à dir. dentro duma cartela). 
Dim. - 486 X 349 mm. de vin. 
Proc. - Gravura. 

Esta vista ocorre na obra de G. Braun intitulada, na edição latina de Colónia: CIVITATES ORBIS TERRARUM e na edição francesa de Bruxelas: LE GRAND THÉATRE DES DIFFERENTES CITÉS nu MONDE, em 6 vols. de 304 páginas duplas com vistas das principais cidades e portos. O 1.° vol. saiu em 1672 e os outros em 1693 e 1694, anos em que se reimprimiu o primeiro. Um sexto vol. saiu em 1613 com o qual aumentou para 363 o número de vistas. 

As gravuras são de Franz Hogenberg e Simon von den Noevel (Novellanus). Georg Hoefnagel e Conrad Chaymon deram as plantas. (2)


(1) António de Aguiar, Olisipo n.° 57, 1952
(2) António de Aguiar, Idem

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