quarta-feira, 22 de junho de 2016

Príncipe de Joinville

Em agosto de 1834, o Príncipe de Joinville (1818 -1900) passa novos exames em Brest, sob a direção de cavaleiro Préaux Locré. Recebido como aluno de primeira classe, embarca imediatamente em Lorient na fragata "La Syrene", vai a Lisboa, aos Açores, e regressa a França, após de três meses de navegação.

François d'Orléans, príncipe de Joinville (detalhe).
Chateau de Versailles, Franz Xavier Winterhalter, 1843.
Imagem: REPRO TABLEAUX

Em 1840 [...] participa na transladação dos restos mortais do imperador Napoleão. 

Transbordement des cendres de Napoléon, Morel-Fatio, 1841.
Imagem: L'HISTOIRE PAR L'IMAGE

Em maio de 1841, [...] embarcado na "Belle Poule", vai visitar Amesterdão e todos os portos ou instalações marítimas da Holanda. Seguidamente viaja para a América, visita o Cap-Rouge, Halifax, Filadélfia, Washington e regressa à Europa, por Lisboa, onde é recebido pela rainha Dona Maria, e regressa a França em janeiro 1842. (1)

Lisbonne vue du vieux port, François d'Orléans, prince de Joinville, 1842.
Imagem: LMT no Facebook

Após uma rápida travessia chegámos a Lisboa. É certo que o Tejo é um rio bonito, mas o panorama tão falado de Lisboa não merece, segundo eu, a sua reputação. Apenas a Torre de Belém charma os olhos com sua arquitetura original, e desde que aí desembarcámos o encantamento continua diante da igreja atrás dela, mas isso é tudo. O resto é feio.

Torre Velha, Lisbonne, François d'Orléans, prince de Joinville, 1842.
Imagem: Sotheby's

Nós descemos a terra na chalupa ( falua ) [sic, i.e. galeota] Real, uma embarcação guarnecida de esculturas douradas com dossel de seda à ré, cuja tripulação se compunha de em homens do Algarve de tez morena , vestidos de calções curtos, jaqueta de veludo amaranto [vermelho escuro] e envergando boinas venezianas. Remavam em pé cadenciando os movimentos do remo com uma espécie de ladainha, em homenagem à rainha, que cantavam em coro.

Não era a primeira vez que eu vinha a Lisboa; aí reencontrei com alegria a rainha D. Maria, uma amiga de infância da qual viria a ser, não sei quantas vezes, cunhado; aí reencontrei também o seu marido, o rei Fernando, que eu conhecia menos. Artista até à ponta das unhas, musico, aguarelista, aguafortista, ceramista notável, o rei Fernando detestava a política; esses e outros pequenos defeitos, que nos eram comuns, ligar-nos-iam intimamente, e essa amizade duraria até ao seu final prematuro.

Vue de Lisbonne, François d'Orléans, prince de Joinville, 1842.
Imagem: artnet


Regressei com frequência a Portugal; sempre aí recebi um acolhimento do qual guardo a recordação mais reconhecida. Aí encontrei homens distintos, mulhers amáveis, instruídas, charmosas; também dediquei a Portugal e aos portugueses sentimentos de uma afeição sincera e desejo que todos os meus votos sejam por eles seguidos sobre a terra e sobre o mar, mas não entrarei na mais pequena reflexão sobre a sua vida política.

Almada vue d'Alfeita [sic], François d'Orléans, prince de Joinville, 1842.
Imagem: artnet

Na época da qual falo, este país tinha duas ilustres espadas: os marechais Saldanha e terceira, que serviam alternadamente de apoio à mudanças alternadas da Constituição, fosse na ajuda a levantamentos militares, fosse na ajuda a procedimentos mais parlamentares. Era o costume do país, o qual ia melhorando. Havia, como em França, dois partidos dinásticos; mas, coisa curiosa, o partido miguelista que fazia oposição à rainha Dona Maria, partid pouco numeroso de resto, pretendia-se o partido da legitimidade, bem que ele reivindicasse os direitos de D. Miguel, representante de um ramo mais jovem.  Que os políticos profundos arranjem isso a seu modo.

Não sei se é na ocasião desta estadia que, recebendo em Belém o corpo diplomático, o duque de Palmela, que se me apresentou como ministro dos negócios estrangeiros, me pediu de o desculpar por abreviar a cerimónia, já que a duquesa de Palmela, nesse momento, estaria prestes a dar ao mundo o se décimo quinto filho, prova palpável, dada por um ministro de negócios estrangeiros, da vitalidade da nação portuguesa.

O duque de Palmela, um diplomata da velha escola, que pleno de espírito natural e de talento, combinava a vantagem de ser próximo dos grandes diplomatas do século, os Talleyrand, os Metternich, etc., etc., convida-me para jantar alguns dias depois.

A refeição foi explêndida. À chegada, os archeiros reais, assim chamados porque estão armados com alabardas, guarneciam a escadaria; depois passamos pelos belos salões, ao fundo dos quais, à saída da mesa, uma porta ampla se abria para deixar ver, no alto de um estrado de vários degraus, uma magnífica cama de cerimónia, e nessa cama a duquesa de Palmela, que há pouco tempo dera à luz, e a quem todos os convivas se apressavam a ir apresentar as suas homenagens.

Numa revista às tropas portuguesas notei belos batalhões de caçadores e tive uma conversa bem divertida com o célebre almirante Sir Charles Napier, que assistia a essa revista, a cavalo, em uniforme de comandante de navio inglês, mas com um pequeno chapéu à Napoleão com cocar [laço] português, as calças subidas, os pés armados com gigantescas esporas de caça e um bastão enorme na mão [...] (2)


No mês de junho seguinte, [o Príncipe de Joinville] voltou para o "Belle Poule" com a esquadra às ordens do vice-almirante Hugon. Acompanha então o seu irmão mais novo, o Duque de Aumale a Nápoles, depois, a Lisboa, e dirige-se ao Brasil fazendo escala em Saint Louis, Senegal [...]

Esta viagem tem por objetivo o pedido em casamento da Princesa Dona Francisca de Bragança (1824 - 1898), filha do imperador Dom Pedro I, e irmã do futuro imperador Dom Pedro II e da Rainha de Portugal Dona Maria. 

Dona Francisca de Bragança, princesa de Joinville (detalhe),
Musée de la Vie romantique, Ary Scheffer, 1844.
Imagem: The Royal Forums

A união dos dois príncipes é celebrada no Rio de Janeiro, no dia 1º de maio de 1843. Imediatamente após, o Príncipe leva a sua esposa para França, onde brevemente nascerão os seus dois filhos. No dia 31 de julho de 1843, Joinville é nomeado contra-almirante [...] (3)


(1) Wikipédia, François d'Orléans (1818-1900)
(2) Joinville, François Ferdinand Philippe Louis Marie d'Orléans prince de, Vieux souvenirs: 1818 - 1848, Paris, Calmann Lévi, 1894
(3) Wikipédia, idem

Versão inglesa:
Joinville, François Ferdinand Philippe Louis Marie d'Orléans prince de, Memoirs (Vieux souvenirs) of the Prince de Joinville, London, William Heinemann, 1895


Leitura adicional:
Outros escritos de François d'Orléans, príncipe de Joinville

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